Ermac: a lenda que nasceu de um registro de erros

Um dos aspectos mais legais dos jogos de luta são as lendas que se formam com o passar do tempo. A franquia Street Fighter teve sua dose de rumores, com um lutador nasceu de uma brincadeira de primeiro de abril e quando se trata de Mortal Kombat, a história mais interessante é certamente a do Ermac.

• Mortal Kombat: 30 anos da decapitação que mudou a história
• A lenda de Sheng Long

A existência de tão misterioso lutador remete a 1992, pouco depois de o primeiro Mortal Kombat aparecer nos fliperamas. Naquela máquina, a Midway Games implementou algo que havia nascido dois anos antes, no jogo Smash TV. Tratava-se de uma tela de diagnóstico em que a empresa podia detectar problemas e algumas informações de desempenho, como, por exemplo, quantas vezes o Goro venceu ou foi derrotado, ou a quantidade de personagens diferentes escolhidos pelos jogadores.

Porém, eram as três últimas informações contidas naquela tela que mais chamavam a atenção de quem conseguia acessá-la. Isso porque, na antepenúltima linha era mostrado quantas vezes o chefão final, Shang Tsung foi derrotado e logo a seguir, quantas vezes o Reptile foi enfrentado.

Quem conhece o primeiro Mortal Kombat sabe que esse era um personagem secreto, que só poderia ser achado se atingíssemos condições específicas: vencer a luta na fase The Pit sem sofrer golpes quando uma sombra passasse diante da lua e executar nosso adversário com um Fatality.

Porém, aquela tela fez com que muitas pessoas começassem a achar que o Reptile não era o único segredo do jogo e quem explicou o motivo foi o cocriador do Mortal Kombat, Ed Boon.

“Há mais de 30 anos estávamos trabalhando no primeiro Mortal Kombat. O software do jogo tinha sessões do código que (teoricamente) nunca deveriam ser alcançadas/executadas. Se acontecesse, incrementaria um contador que registraria o ERRO. Nós também fizemos uma tela de ‘Audição de Jogo’ onde poderíamos conferir o contador nos fliperamas.

Para manter cada registro curto, escrevi um macro assembler que deveria chamar todas as funções necessárias em uma linha de código. O macro foi chamado ERMAC… abreviação para Error Macro.

Infelizmente ou felizmente, a gente listava o número de ERMACs que aconteceram diretamente depois do registro/número de vezes em que os jogadores lutaram contra o Reptile, que era um lutador escondido no primeiro Mortal Kombat.

Isso (é claro) fez os jogadores especularem que o Ermac era outro lutador escondido, como o Reptile. Logo rumores sobre o Ermac se tornaram uma lenda, com jogadores insistindo que lutaram contra ele. Eles não lutaram. 🙂

No Mortal Kombat 2 fizemos o Reptile como um lutador jogável e adicionamos três novos lutadores secretos: Smoke, Jade e Noob Saibot, mas alguns jogadores continuaram procurando pelo Ermac.

Para o Mortal Kombat 3 decidimos transformar alguns mitos em realidade, começando pelos Animalities. Finalmente, no Ultimate MK3 (ficando sem cores) nós finalmente adicionamos o Ermac como um lutador real (ninja vermelho) à lista.

Ao longo dos anos ele fez várias aparições nos jogos MK. Agora ele possui uma história completa e é parte do universo MK.

Nós nunca poderíamos imaginar que aquele ninja vermelho com um nome ridículo poderia se tornar uma parte tão importante da história do Mortal Kombat e continuar quebrando tudo 30 anos depois! Mas aqui estamos, com ele prestes a se juntar ao elenco do Mortal Kombat 1.”

Pois a adoção daquele ninja acabou fazendo com que ele se tornasse um dos personagens com enredo mais interessante da franquia. Segundo a primeira linha do tempo, Ermac não é apenas um lutador, mas uma fusão de várias almas destruídas no Outworld, o que faz com que ele refira a si sempre no plural.

Funcionando mais como uma entidade, ele não demonstra emoções e por ser formado por várias almas, adquiriu habilidades muito poderosas, como telecinesia, teletransporte e a habilidade de saltar entre os reinos.

Após a trilogia inicial, Ermac despareceu, retornando apenas com o lançamento do Mortal Kombat: Deception. Também foi nesta época em que o misterioso lutador se arrependeu do passado, passando a ajudar Liu Kang a salvar as almas de seus amigos.

Mas o lado bonzinho do personagem não durou muito. Quando o Mortal Kombat foi lançado em 2011 e começou uma nova linha do tempo, o corpo do ninja vermelho foi possuído pelas almas de Shao Kahn e King Jerrod, mas por vontade própria ele optou por se juntar a Kotal Kahn e controlar o Outworld.

Mas independentemente das motivações de Ermac, ele sempre foi um forte combatente e com potencial para ainda ser muito explorado. A NetherRealm Studios tanto sabe disso que preferiu deixar para adicioná-lo ao Mortal Kombat 1 como um DLC, garantindo assim a venda para todos que admiram o personagem.

O curioso é pensar que ele nasceu por acaso, a partir de uma lenda que surgiu nas ruas e que, ao contrário daquela do Sheng Long, fazia algum sentido. Felizmente, os criadores do Mortal Kombat resolveram entrar na brincadeira e ainda capitalizaram em cima de um rumor que poderia não dar em nada.

PS: a franquia Mortal Kombat nunca escondeu sua facilidade em se aproximar do absurdo e outro personagem com uma criação interessante é o Noob Saibot. Estreando no segundo jogo da série, para enfrentá-lo tínhamos que vencer cinco partidas seguidas e o curioso é que sua inclusão foi feita sem que John Tobias ficasse sabendo. Aliás, o nome do lutador é justamente os sobrenomes de Boon e Tobias escritos de trás para frente.